terça-feira, 18 de dezembro de 2012

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O primeiro choque com a deep web é em relação ao tamanho deste lado escuro da internet. Um iceberg, um destes blocos gigantes de gelo que vagam pelo oceano. A parte visível, que fica acima da superfície da água seria o correspondente à nossa internet cotidiana, como conhecemos hoje. Os outros 90% submersos escondidos ali representariam a proporção desta parte da rede.

Para quem nunca ouviu falar no assunto, a principal diferença entre a nossa internet e a deep web é que neste lado escondido da rede, nada é indexado. Nada é rastreado. Todo o tráfego do dados é criptografado, o que significa privacidade e anonimato, o que pode ser bom e ruim ao mesmo tempo.

"A deep web se diferencia muito da rede normal, porque é tudo criptografado", conta Jaime Orts Y Lugo, especialista em segurança. Ele explica que diferentemente da web tradicional, neste pedaço da web, a informação passa por vários pontos, recebendo uma criptografia em cada um.

Na web normal, tudo que fazemos para chegar a qualquer destino pode ser facilmente rastreado.Ou seja, privacidade é ilusão. Mais que isso: mecanismos inteligentes identificam o que fazemos o tempo todo na rede para, logo em seguida, oferecer publicidade dirigida e relacionada ao nosso gosto pessoal. E muita gente acaba usando a deep web simplesmente por não estar de acordo com esta regra imposta por gigantes como o Google.

"Eu diria que há o respeito à privacidade na parte de baixo [da internet]. Eu não quero ter uma máquina cheia de cookies. Eu não quero que as pessoas saibam o que eu estou comprando, o que eu gostaria de comprar, nem quero ser bombardeado com oportunidades de compra só por estar fazendo uma busca", diz Lugo. 

O especialista em segurança diz que a "parte de baixo do iceberg" existe por deficiências da parte superior e seu uso comercial excessivo. 

Por outro lado, uma infinidade de criminosos viu na deep web um prato cheio para praticar atos ilícitos e garantir o anonimato. Nossos repórteres mergulharam de cabeça no assunto e descobriram coisas bizarras e assustadoras.

"Tem coisas estranhíssimas que você nem imagina que haja quem possa gostar daquilo, principalmente relacionado a sexo", conta o repórter Leonardo Pereira. "Tudo que você imaginar de parafilia tem lá dentro", ele afirma, contando ainda que é comum se deparar com imagens que "você não gostaria de ver" ao navegar.

E realmente tem de tudo neste lado obscuro da internet: sites de pedofilia, turismo sexual e até assassinos de aluguel estampam a principal página de buscas da deep web.

Lugo, no entanto, vê uma paranoia muito grande sobre a deep web. "Eles preferem sempre falar da coisa ruim, que só tem droga, contrabando, armas... mas tem para quem? Para quem está procurando!", afirma. Ele admite que existe a possibilidade de acabar acessando sem querer uma destas páginas por inexperiência, mas lembra que "quem entra lá para procurar drogas, também pode ir à esquina para comprá-las."

O assunto é delicado e divide opiniões. As autoridades, claro, sabem que a deep web existe, mas como já foi dito não há nada que se possa fazer. É praticamente impossível identificar um acesso neste lado misterioso da rede. 

Entretanto, quem a usa para o bem não é conivente com toda esta ilegalidade. O grupo de hackers Anonymous, por exemplo, conseguiu detectar uma rede de pedofilia com 1,6 mil usuários na deep web e, depois de atacar o site virtualmente, entregou todos os envolvidos para a polícia.

"É uma forma de você combater o ponto e não acabar com tudo", afirma Jaime Orts Y Lugo. "Imagina se, em uma sala, uma pessoa está se comportando mal. Por causa dele, o resto vai sofrer as consequências?", exemplifica o especialista em segurança. Ele defende que sejam punidos apenas as pessoas causadoras de problemas.

Para acessar a deep web, é preciso ter um navegador específico chamado Tor (The Onion Router). Seu símbolo, uma cebola, remete às várias camadas que são necessárias atravessar para se chegar a um conteúdo específico.

"A primeira impressão é que se trata de um lugar bem difícil de se mexer e que você precisa de muita paciência, seja lá qual for o motivo pelo qual você está usando a deep web", conta o repórter Leonardo Pereira. "Nós conversamos com algumas pessoas e elas disseram que os vírus surgem lá. Eles são testados lá dentro. Então é preciso tomar cuidado, com um computador bem preparado e não pode sair clicando em tudo", ele explica.

Ou seja: para experimentar, tome esta série de medidas de proteção:

Tenha um bom antivírus instalado;
Use um firewall;
Patches de segurança de seu sistema operacional devem estar atualizados;
Prefira um modem 3G à rede de internet local para evitar uma invasão;
Procure algo interessante.
"Trazer alguma coisa do mundo de lá para o mundo de 'cá' é perigoso, sem dúvidas. Pode acontecer o mesmo que comigo: eu baixei um monte de coisas relacionadas à minha pesquisa e não era nada daquilo", diz Lugo, recomendando cautela.

A mesma postura é recomendada por Leonardo Pereira. "Na dúvida, não clique. É a principal dica", recomenda o repórter.

Nosso time do Olhar Digital está preparando uma série de reportagens sobre a deep web. Caso você tenha ficado curioso, confira os links logo abaixo do vídeo para ficar por dentro de tudo que cobrimos sobre este lado sombrio e misterioso da internet. 

Deixamos disponível também o link para baixar o Tor. Usando este navegador, mesmo na internet normal, você tem a garantia de que nenhum site nunca mais irá coletar suas informações enquanto navega. 

Se você quiser navegar pelas águas não mapeadas da deep web, siga nossos conselhos de segurança e, nunca é demais lembrar: tome cuidado e boa sorte. E se você já se aventurou neste mundo, compartilhe suas experiências nos comentários com outros leitores.

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